REPORTAGENS TÉCNICAS

A  Armadilha da Multifuncionalidade

As mudanças no mercado de trabalho permitiram ao profissional atuar em diversas frentes, transformar-se em um especialista em vários assuntos, conhecendo a fundo as atividades que giram em torno de sua função principal. Profissional multifunção é aquele que consegue desenvolver mais de uma atividade dentro da empresa, seja pelo corte de profissionais ocorrido nos últimos anos em muitas empresas, obrigando uma única pessoa a assumir a função de várias ou pelo conhecimento amplo que todos os profissionais se vêem obrigados a adquirir para continuar competindo no mercado.

Esta tendência, muito atraente, para resolver os problemas de sua empresa, na verdade tem nos levado a uma grande armadilha. Estamos cometendo grandes erros na gestão de pessoas e consequentemente reduzindo cada vez mais a qualidade da nossa prestação de serviços. Nossas empresas não tem conseguido a produtividade desejada, nossos departamentos operacionais ou de recursos humanos não conseguem qualificar e nem motivar os profissionais, que acabam sendo contratados sem a devida capacitação.

O modismo da multifunção nos últimos dez anos tem levado empresas a perder em pouco tempo sua excelência no atendimento ou seu controle sobre a situação operacional da empresa. A observância dos fatos ao longo destes anos demonstra também, desmotivação no ambiente de trabalho causada pela incapacidade do funcionário exercer tarefas distintas.

Quantas vezes você perguntou este mês, porque isso não foi feito? E não conseguiu uma resposta ou um responsável. A multifuncionalidade passou a ser obrigação de todos e responsabilidade de ninguém. Precisamos rever este conceito, e aprender a aplica-lo em nossa empresa.
Para entendermos a nossa situação, quero lembrar que a multifuncionalidade nas empresas surgiu em meados da década de 50. O Japão, após duas guerras ficou sem recursos, buscou esta solução nas fabricas da Toyota, método conhecido como Toyotismo. A Toyota identificou que necessitaria de funcionários generalistas que pudessem exercer varias atividades dentro da organização. Para tanto, investiu na capacitação técnica dos funcionários.. O funcionário teria que estudar e fazer cursos técnicos até que fosse capaz de exercer diversas funções, tudo isso custeado e acompanhado pela empresa.
Felizmente, nosso pais não passou por duas guerras presenciais, mais o mesmo problema tem passado por aqui, e precisamos resolver agora, pois significa uma questão de existência do nosso negócio. Não adianta generalizar a metodologia de multifuncionalidade na sua empresa, provavelmente apenas 10% de seus recursos terão realmente condições de atingir o objetivo desejado. Identifique os que forem realmente multifuncionais e invista em sua capacitação, por outro lado recomendo que invista na especialização dos limitados para obter o melhor desempenho possível.

Para que o profissional exerça diversas funções é necessário
ter capacidade para tal e estar motivado a fazê-lo. Não se pode, simplesmente, aumentar as atividades dos funcionários e chamar isso de multifunção.

Nos baixos níveis de qualificação isto pode ser observado com mais frequência, quando o processo de multifuncionalidade é mal conduzido os funcionários perdem o comprometimento com o resultado final.

Entretanto, isto dependerá dos requisitos necessários que a posição apresenta e da atividade que o profissional vai desempenhar. Quanto mais técnica for a função, a tendência é termos profissionais mais especializados.

"Em funções distintas, a pessoa pode executar várias tarefas, mas será de fato eficaz em alguma”

Quanto a capacitação, o funcionário não tem tempo e nem dinheiro para melhorar seu potencial, o que podemos fazer? Hoje temos muitas possibilidades de reverter este quadro, uma delas é: Oferecer uma sala com acesso a internet para que o funcionário, após o horário de trabalho tenha educação ou treinamento gratuito a distância. Podemos com isso, melhorar sua capacitação e acompanhar o seu desenvolvimento para que possa exercer novas tarefas, o custo para isso é muito pequeno e o resultado compensador.

Quanto a estar motivado, um empresário comentou comigo. Este ano gastei uma grande soma investindo em cursos motivacionais e treinamentos com meu pessoal, quando olho para o meu staff não vejo o resultado esperado. O que esta acontecendo? Porque as coisas não estão funcionando?

Pergunto a ele quantas vezes este ano elogiou um bom trabalho? Quantas vezes ele parou para escutar seus funcionários? Eu falei escutar. Quantas vezes ele participou efetivamente dos treinamentos operacionais e interagiu com seus funcionários?. Ele me disse, não posso parar para escutar besteiras, não tenho tempo para participar de treinamentos, mais eu coloquei pessoas capazes para tal...

Então eu lhe respondi, o melhor motivador é o dono da empresa, não existe no mundo curso milagroso que motive mais um funcionário do que a própria palavra de seu Diretor, isso eu posso te afirmar.

Multifuncionalidade também é o profissional estar preocupado com o resultado do outro e ajuda-lo em suas atividades quando o momento exigir.

Multifuncionalidade também é o profissional encontrar um volume obstruindo o caminho e retirá-lo sem que esta seja a sua obrigação.

Estimular o funcionário a se colocar a disposição do trabalho é a melhor maneira de identificar os que realmente têm capacidade para se tornar um funcionário multifuncional.